Em março, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo IBGE, mostra que a taxa de desemprego no Brasil disparou e fechou em 8,5%. Já a economia brasileira deve fechar 2016 com o segundo pior desempenho do mundo, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). A estimativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) “encolha” 3,5%. Esses números mostram que o momento é delicado e é preciso ter coragem para empreender. Por outro lado, são nessas horas que surgem as oportunidades para reconstruir e inovar.

Foi o que aconteceu com a ex-empregada doméstica Ranael Ribeiro Nascimento (41), mais conhecida como Teka. No primeiro semestre de 2015, quando seu patrão informou que se mudaria com a família para o exterior, Teka sentiu um frio na barriga. “Com todas essas notícias sobre crise econômica, desemprego… O que vai acontecer agora?”, foi seu pensamento imediato, típico de quem se vê obrigado a sair de sua zona de conforto que, no caso dela, durou 10 bons anos. Porém, no caso dela, a fase que veio depois se mostrou bem melhor do que era esperado.

Nascida no município de Ruy Barbosa, a 321 km de Salvador – BA, e morando em São Paulo há 15 anos, Teka aproveitou a mudança de cenário e colocou em prática a realização de um sonho antigo. “Meu patrão me perguntou se eu gostaria de voltar para a Bahia e abrir um negócio lá, pois ele me ajudaria. Nem esperava uma oferta dessas. Mas, na verdade, meu objetivo sempre foi abrir um negócio aqui, em São Paulo: Um restaurante. E ele me ajudou”, conta Teka, que, desde pequena, sempre amou cozinhar.

A chef e empreendedora Teka em seu restaurante Pitada Caseira
A chef e empreendedora Teka em seu restaurante Pitada Caseira

Rodrigo Bueno, o patrão, confiando no talento de Teka para a culinária, decidiu investir nesse sonho, junto com mais três amigos, todos executivos bem sucedidos: Marcio Oliveira, Ricardo Villela e Fernando Cardoso. Os quatro empresários se tornaram sócios de Teka e, em julho de 2015, o restaurante Pitada Caseira começou a funcionar na Rua Guilherme Mainard, no Jardim Ana Maria, zona sul de São Paulo.

Há nove meses, Teka tem equilibrado a sua maior expertise – a cozinha – com o desafio de ser empreendedora. O restaurante funciona de segunda-feira a sábado, é self-service e também oferece o famoso “prato feito”, servindo uma média de 50 pratos por dia. “De julho para cá, a clientela tem aumentado bastante. Há muito comércio na região e as pessoas têm gostado da comida caseira que servimos. Elas, inclusive, já perguntaram se fazemos delivery, que começamos a fazer agora em abril”, explica Teka.

A chef e administradora avalia que a empreitada, apesar de muito recente, tem gerado resultados positivos. O restaurante recebeu um investimento inicial de R$ 60 mil, mas ainda está no ponto de equilíbrio, onde não há lucro e nem prejuízo. De qualquer forma, Teka está positiva de que o lucro virá até o fim de 2016. “Além de todo o conhecimento que estou adquirindo na prática, que é uma coisa que não conseguiria se estivesse trabalhando na casa do meu ex-patrão e atual sócio, ainda planejo muitas melhorias para o Pitada e para a minha vida profissional. Já estamos disponibilizando o espaço para eventos à noite e, até o final de abril, queremos servir de manhã salgados e café da manhã. E, ainda nesse semestre, quero fazer cursos de administração, de conservação de alimentos e até mesmo de aperfeiçoamento gastronômico. Minha expectativa é dobrar o número de pratos servidos por dia até o fim do ano. Eu quero é crescer”, afirma confiante. Atualmente, Teka está investindo em publicidade (folders) e itens de papelaria (guardanapos, comunicação interna).

A chef e empreendedora Teka em seu restaurante Pitada Caseira
A chef e empreendedora Teka em seu restaurante Pitada Caseira

Adepto da política de apostar na perseverança e ter foco no resultado, Robinson Shiba, presidente do Grupo TrendFoods, que administra as redes China in Box, Gendai e Gokei, acredita que o empreendedor precisa ter coragem e proatividade. Não pode ficar parado e deixar os planos apenas no papel. Não pode ficar paralisado na crise. “O melhor caminho para realizar algo é manter uma visão sempre otimista daquilo que se quer e se espera. Com criatividade, gestão, comprometimento e propósito, é possível passar por esse período turbulento”, destaca.

Enormes pitadas de esforço

O amor e o talento de Teka pela culinária começaram cedo, aos dez anos de idade, quando iniciou todo o aprendizado com a mãe, Terezinha Carmo de Araújo, na Bahia. Enquanto era empregada doméstica, Teka fazia salgados para fora como uma forma de renda extra. Hoje, a administradora conta com a ajuda de duas pessoas para o dia a dia do restaurante, possui um contador e está sempre em contato com seus sócios. Além disso, ela também coloca a mão na massa, chegando todos os dias às 7 da manhã para decidir e preparar o cardápio, que muda a cada dia. “Faço tudo fresquinho, já sei a quantidade certa para cada prato e consigo aproveitar tudo sem causar desperdício”, conta orgulhosa. Junto com as suas funcionárias, ela organiza o restaurante para o almoço, principalmente no horário de pico das 11h30 às 14h, e o fecha por volta das 17h. Duas vezes na semana, sai do Pitada e vai aos atacadões para repor o estoque. E, todos os dias, ainda tem a “jornada noturna” em casa, com os dois filhos (o caçula tem três anos).

Para ficar sempre por dentro das tendências gastronômicas, Teka procura acompanhar programas de TV, como “Mais Você” (Globo) e “Melhor pra Você” (Rede TV). Teka diz que gosta de cozinhar de tudo, mas os pratos mais elaborados e típicos, como feijoada, caruru e vatapá, são a sua preferência. “Adoro fazer pratos típicos porque são bem mais desafiadores. Aqui em São Paulo, as pessoas costumam pedir mais o básico – arroz, feijão, frango assado… A gente agrada a freguesia, mas também dou um ‘toque baiano’ para me diferenciar da concorrência”, diverte-se.

Para quem acha que a instalação do restaurante foi um processo rápido, se engana. “Durante dois meses, eu mesma fiz várias pesquisas nos bairros próximos à minha casa e, com a ajuda dos meus sócios, escolhi um local estratégico, fora dos grandes centros, onde havia pouca oferta de comida de qualidade. Na rua do Pitada há três outros negócios, mas todos servem refeições mais simples. Mesmo com pouco tempo de funcionamento, já recebi vários elogios e estou super feliz”, comemora Teka.

A chef e empreendedora Teka em seu restaurante Pitada Caseira
A chef e empreendedora Teka em seu restaurante Pitada Caseira

A animação da empreendedora pode ser comprovada com as respostas dos frequentadores do Pitada Caseira. Para Talita Santos, 19 anos, vendedora de uma loja de confecções na região, o restaurante foi um achado. “Aqui no bairro não tinha muita opção de comida com um sabor mais caseiro. Era fácil de enjoar. Aí, com a chegada do Pitada, fui conhecer e gostei demais. A gente sente que a comida é feita no dia, com tudo fresco e natural. Além disso, o ambiente é muito tranquilo e, mesmo quando não consigo sair meio-dia para almoçar, eu tento passar lá mais tarde, tipo 14h. Sempre indico o restaurante para os colegas do serviço e até para os clientes com quem tenho mais proximidade”, explica Talita.

O motorista de entregas rápidas, Wagner Teixeira de Moraes, 48 anos, trabalha há cerca de 12 anos no local e é cliente fiel do restaurante desde quando abriu, almoçando por lá todos os dias. Ele, que também mora no bairro, já chegou a ir com a família – esposa e seis filhos – aos sábados no Pitada. “É um lugar que faltava na região. Além do tempero caseiro e do preço em conta, é um ambiente familiar e o atendimento é excelente. Os outros restaurantes daqui oferecem poucas opções de pratos, o sabor parece ser mais industrializado e o atendimento não é dos mais calorosos”, compara. “Todos os pratos servidos no Pitada são saborosos, mas a feijoada é maravilhosa”, conta Wagner.

No Pitada Caseira, o cliente pode optar por se servir à vontade no buffet (R$ 14,99) ou pedir um “prato feito” (R$ 10). Teka ainda permite o “PF negociado”, no qual o freguês pode incluir as opções do buffet self-service (R$ 12). Dos 50 pratos servidos por dia, 20 são PF. Bebidas (sucos naturais e de polpa, água, refrigerante e cerveja) e sobremesas (pudim, bolo recheado) são cobradas à parte (entre R$ 2,50 e R$ 3). E, segundo Teka, a freguesia elogia com muita frequência. Para quem quiser saber os pratos servidos no buffet:

 

Serviço

Restaurante Pitada Caseira

Tel. Delivery: 5842-4461

Rua Guilherme Mainard, nº 51, Jardim Ana Maria, zona sul de São Paulo.

Por Thais Coimbra / Fotos Marcelo Pereira.