Pediatra destaca as vantagens e desvantagens do acessório e lembra: por mais que pais insistem, quem decide sobre o uso da chupeta é o bebê

As primeiras semanas de vida do bebê podem ser bastante angustiantes para os pais. Em especial quando a criança chora muito ou sofre com as temidas cólicas.

Nessas horas, surge uma opção de aliada que é amada por uns, odiada por outros e indicada com parcimônia pelos especialistas: a chupeta! Polêmica na criação das crianças e, para muitos, motivo de dúvidas.

Para acirrar ainda mais a discussão, a AAP (Academia Americana de Pediatria) indica, a partir do 1º mês de vida, a chupeta na hora de dormir — isso porque pesquisas mostram que o seu uso seria capaz de reduzir em até 90% o número de mortes súbitas –quando um bebê saudável morre repentinamente, sem muita explicação.

Mesmo com a recomendação, a AAP informa também sobre o risco dos efeitos colaterais sobre a amamentação e a dentição e que o uso deve ser iniciado após a mamada estar bem estabelecida. Já SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) não recomendam a chupeta.

A Dra. Thais Bustamante, pediatra membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, respondeu algumas questões sobre os prós e contras do acessório. Confira:

Quando a chupeta pode ser oferecida ao bebê?

Dra. Thais: Se os pais optarem pelo uso da chupeta, recomenda-se iniciar após a 4ª semana de vida, pois este é o tempo necessário para que a amamentação esteja bem estabelecida, não permitindo que a “confusão de bicos” atrapalhe este processo tão importante.

Em que momentos a chupeta pode ser oferecida?

Dra. Thais: Nos momentos de choro constante do bebê, como nas cólicas, ou na hora de dormir, se realmente necessário. É preciso o uso ponderado, de forma que não se torne um vício para o neném, principalmente durante o dia.

Como evitar o vício?

Dra. Thais: É importante que os pais se lembrem de que são os cuidadores que oferecem a chupeta. Para evitar o vício, não a deixe exposta, visível e acessível prontamente ao bebê. Fazendo assim, o controle do uso da chupeta será mais fácil.

Quais os pros e contras do uso da chupeta?

Dra. Thais: Como contras, temos:

– prejuízo da amamentação , com maior probabilidade de desmame precoce;

– maior prevalência de otite media aguda;

– maior taxa de infecções em geral, como vômitos, febre, diarreia e cólicas;

– problemas dentais e na fala.

Os prós são:

– acalmar os bebês, e ajudando-os a dormir;

– alivio da dor, pois a sucção não nutritiva é um método de analgesia nos pequenos;

– nos prematuros ainda internados, pode ajudar no treino da sucção;

– alguns estudos indicam que evita a morte súbita.

É importante destacar que quem decide se vai ou não usar a chupeta é o bebê. Por mais que os pais queiram utilizar o acessório para acalmar momentos de crise, é a criança que determina seu uso.

Como fazer para um bebê que não pega chupeta começa a pegar?

Dra. Thais: Não existe mágica neste processo. No começo é normal que a chupeta caia várias vezes da boca, pois eles ainda não conseguem mantê-las entre os lábios. Alguns bebês podem demorar até 40 dias para “se acostumar” ao uso do dispositivo. Novamente, reforço: quem decide se vai ou não usar a chupeta é o bebê, apesar da insistência dos pais/cuidadores. Muitos não “pegam”, mesmo com várias tentativas.

Até qual idade e aceitável que a criança use a chupeta?

Dra. Thais: Geralmente os pais começam a pensar nisso quando o bebê está com 2 anos. O fato é que os bebês têm maior necessidade de sucção nos primeiros meses de vida. Depois, os interesses se voltam para outros sentidos, então melhor aproveitar esta fase para retirar a chupeta. Tende a ser mais fácil o processo.

A chupeta pode atrasar a fala?

Dra. Thais: Sim, o uso da chupeta pode causar alterações no desenvolvimento da linguagem oral (articulação dos sons e da fala), pois quando a chupeta fica muito tempo na boca da criança, modifica a configuração natural da cavidade oral, além de limitar os balbucios, a imitação dos sons e a emissão das palavras, levando, às vezes, a uma vocalização distorcida. Portanto ela pode interferir na aquisição e na produção dos sons da fala.

A pediatra deixa algumas dicas para pais e cuidadores sobre o uso da chupeta:

– dê preferência pelas chupetas ortodônticas;

– mantenha as chupetas sempre limpas, esterilizando pelo menos uma vez ao dia nos primeiros 3 meses;

– não a mergulhe o acessório em alimentos doces para facilitar a aceitação;

– troque a chupeta se a borracha estiver furada, grudenta ou desgastada;

– espere o bebê precisar da chupeta, antes de colocá-la na boca de forma automática;

– tente retirar o hábito do uso da chupeta o quanto antes. Até os 3 anos, qualquer alteração dentária que possa ter ocorrido pode regredir se o uso da chupeta for descontinuado até esta idade.