Celebrado oficialmente no Brasil desde 2008, o Outubro Rosa é conhecido por suas campanhas de conscientização sobre o câncer de mama. Durante todo o mês, marcas, associações de pacientes, empresas, órgãos governamentais e diversas outras instituições da sociedade civil se juntam para reforçar a importância do diagnóstico precoce desse que é o tipo de câncer mais comum entre mulheres, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Nesse período não é raro que se esbarre com um ou outro folheto ou ação explicando sobre o autoexame das mamas, assim como materiais que abordem o papel central do rastreamento com a mamografia. Entretanto, um profissional que é peça fundamental na luta contra a doença, aquele responsável por “enxergar o câncer” segue desconhecido por grande parte da população: o médico patologista.

“Responsável por analisar biópsias e punções que ocorrem após a identificação de nódulos por exames clínicos e de imagem, o médico patologista é aquele que consegue ‘enxergar o câncer’ no microscópio. Ele observa minuciosamente a estrutura celular das amostras e consegue dizer não apenas se um nódulo é ou não câncer, mas seu tipo, estágio e grau de agressividade, além de já indicar em seu laudo a forma de tratamento mais adequada para a doença”, explica Clóvis Klock, médico patologista e presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).

Enxergando o câncer

Segundo ele, grande parte dos pacientes acha que os diagnósticos são emitidos automaticamente por um computador, nos moldes dos testes laboratoriais clínicos. Entretanto, quando o assunto é o laudo anatomopatológico, nome do documento que confirma ou não o câncer, a realidade é completamente diferente.
“Nosso trabalho também acontece em um laboratório composto por diversos equipamentos para processamento e tratamento das amostras, mas, ainda assim, a principal peça em toda essa estrutura é o próprio patologista. É ele quem olha no microscópio e, utilizando seus anos de experiência e estudo contínuo, consegue dizer que tipo de célula existe na amostra”, conta.

Passo a passo do câncer de mama

O presidente da SBP explica que existem diversas etapas no diagnóstico do câncer de mama. Após os primeiros sinais ou detecção de um nódulo via rastreamento, a paciente é submetida a uma biópsia por agulha, quando, após a desinfecção da pele e a aplicação de uma anestesia local, uma agulha fina é introduzida até chegar ao nódulo para absorver algumas células da região. Essa amostra do nódulo retirada é colocada imediatamente naquilo que os médicos chamam de fixador adequado, uma solução química composta por uma concentração específica de formol tamponado que serve para preservar as células do tecido retirado até ser encaminhado ao laboratório de patologia.

“Essa amostra permanece no fixador à temperatura ambiente por um período entre 12 e 24 horas, não podendo ficar assim mais de 48 horas. Após essa fixação, ela é primeiramente examinada a olho nu, uma etapa conhecida como macroscopia. Isso serve para analisar a peça para descrever seu formato e eventuais alterações que possam indicar algum crescimento fora do normal”, aponta.

Depois disso tem início a etapa chamada de processamento histológico, em que o material é submetido a uma sequência de produtos químicos que o prepararam para ser cortado em fatias cerca de 200 vezes mais finas que 1 milímetro. Este corte é colocado em uma lâmina de vidro, corado, protegido com uma lamínula de vidro e encaminhado para análise no microscópio pelo médico patologista.

O presidente da SBP conta que a Patologia vem evoluindo muito nas últimas duas décadas com a incorporação de técnicas moleculares e imuno-histoquímicas – a tão aclamada medicina personalizada ou de precisão:
“Antes o paciente com câncer tinha apenas um diagnóstico simples para orientar se o médico definiria o tratamento com quimio e radioterapia ou cirurgia. Hoje conseguimos ir além do tumor, obtendo informações sobre o prognóstico, se vai ou não gerar metástases e qual o tratamento é mais efetivo. Apenas com essa análise é possível aplicar com precisão tratamentos novos como a imunoterapia, que chega a aumentar a sobrevida de oito meses para quatro anos”, finaliza Clóvis Klock.