Síndrome de Sjögren: uma doença silenciosa que acomete nove mulheres a cada homem

Sociedade Paulista de Reumatologia alerta para o difícil diagnóstico desta doença autoimune, também conhecida como síndrome seca

Você já ouviu falar da síndrome de Sjögren (pronuncia-se xegren)? Tão difícil quanto o nome, é o diagnóstico desta doença sem cura, caracterizada principalmente pela secura nos olhos, na boca, na pele e na região vaginal, mas que também pode comprometer vários órgãos.


“É uma doença inflamatória e crônica desconhecida não só pela população em geral, mas também por muitos colegas médicos. Há, em média, uma demora de 6 a 10 anos para o diagnóstico correto, pois as características clínicas apresentadas pelos pacientes, são comuns a outras situações, como fibromialgia, hipotireoidismo, diabetes, menopausa, uso de medicamentos para depressão, alergias e pressão arterial”, explica a médica reumatologista, Dra. Virgínia Moça Trevisani, membro da Comissão Científica da Sociedade Paulista de Reumatologia (SPR) e coordenadora da Comissão de Síndrome de Sjögren pela Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Dra. Virgínia alerta que as pessoas demoram para reconhecer que fadiga ocular, sensação de areia, coceira vermelhidão, embaçamento da visão e sensibilidade à luz são sinais de olho seco. Da mesma forma, ardência na língua, feridas nos cantos da boca, infecções fúngicas, dificuldade para mastigar e engolir alimentos sólidos e cáries são sinais e sintomas de boca seca. “A secura, aliás, estende-se à pele, à região vaginal e ao trato respiratório, o que causa tosse seca e irritativa principalmente à noite”, ressalta.


Outra manifestação clínica frequente na síndrome de Sjögren é o cansaço intenso, caracterizado por exaustão e dificuldade para fazer as atividades diárias. “Cerca de 70% dos pacientes apresentam fadiga associada com olho seco e boca seca”, alerta Dra. Virgínia.


A síndrome de Sjögren acomete nove mulheres para cada homem, especialmente na faixa etária entre os 40 e 60 anos, porém pode ocorrer em qualquer idade. “É uma fase em que a mulher está passando pelo climatério, menopausa, o que e dificulta ainda mais a identificação da síndrome.”


Cerca de 50% dos pacientes com síndrome de Sjögren podem manifestar também acometimento em outros sistemas, como articulações, pele, pulmões, rins, pâncreas, fígado, sistema digestivo, sistema hematológico e o sistema nervoso central e periférico.

Sem cura — Por ser uma doença autoimune e sistêmica, os próprios anticorpos produzidos pelo organismo reagem contra a pessoa, causando inflamação e mal funcionamento principalmente das glândulas que produzem lágrimas e salivas.


As causas por trás desta síndrome ainda são pouco conhecidas. Mas pesquisas indicam que a predisposição genética, além de fatores ambientais como infecções virais e alterações hormonais e emocionais podem desencadear a doença. A síndrome de Sjögren pode acontecer isoladamente ou associada a outras doenças reumáticas, como a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistêmico e a esclerodermia.


Todas as pessoas com sinais e sintomas de olho seco, boca seca — associado ou não à fadiga — devem procurar um reumatologista e serem investigadas também para a síndrome de Sjögren.

DIAGNÓSTICO – Para fechar o diagnóstico, o reumatologista conta com a ajuda do oftalmologista, para exames que confirmem o olho seco. Também é necessário avaliar o fluxo salivar, ou seja, a quantidade de saliva produzida em um determinado tempo. Outro exame é a pesquisa de autoanticorpos como o anti-Ro/SSA no sangue, indicador da síndrome de Sjögren. Um exame de sangue simples pode mostrar uma diminuição dos leucócitos, das hemácias e a presença do anticorpo, anti-Ro, o que ajudará no diagnóstico.

“Caso o anticorpo (anti-Ro/SSA) dê negativo e a suspeita no diagnóstico permaneça, o reumatologista pode solicitar uma biópsia da glândula salivar menor. É uma técnica cirúrgica, mas minimamente invasiva, e que ajuda na comprovação do diagnóstico”, explica Dra. Virgínia M. Trevisani.

TRATAMENTO – O tratamento da síndrome de Sjögren consiste principalmente no controle dos sintomas. Para os olhos são indicados lubrificantes oculares específicos, sem conservantes, além de orientações como piscar os olhos, evitar ficar longos períodos no celular e no computador e usar óculos escuros sempre que sair em ambientes ensolarados. Para a saúde da boca, pode-se usar saliva artificial, estimulantes para produção de saliva (como chicletes com xilitol) e higienização oral cuidadosa em casa, além de um acompanhamento de perto do dentista. Já para a pele e a região vaginal, recomenda-se o uso diário de cremes ou gel hidratantes. Também deve-se beber muita água, manter uma alimentação saudável, rica em ômega 3, que é um alimento anti-inflamatório.


Além destes produtos específicos, o tratamento com medicações sistêmicas, quando necessário, deve ser orientado pelo reumatologista. Aliás, esse é o médico especialista no tratamento de pacientes com síndrome de Sjögren. A Dra. Virgínia também ressalta que o tratamento deve ser multidisciplinar com a participação do oftalmologista, do cirurgião dentista, do ginecologista, do fisioterapeuta e do educador físico.