Em um só teste é possível diferenciar se o indivíduo foi apenas vacinado, ou se teve a doença. Exame sorológico, com alta confiabilidade, também se destaca por ter menor custo, uma vez que a produção da proteína é feita por bactérias (Escherichia coli).

Pesquisadores da Plataforma Científica Pasteur-USP (SPPU, na sigla em inglês) estão produzindo um teste para detecção da COVID-19, com alta sensibilidade, menor preço e mais agilidade que outros exames sorológicos. Os componentes do teste foram desenvolvidos e validados pelos pesquisadores da SPPU.

O teste detecta os anticorpos contra COVID-19, a partir de duas proteínas. Uma delas é a Nc – presente na região c-terminal da nucleoproteína do SARS-CoV-2. “Quando a proteína Nc, utilizada no teste, entra em contato com o sangue de um paciente que tenha anticorpos circulantes, a proteína e o anticorpo se ligam, indicando que o paciente já foi infectado pelo vírus”, explica a bióloga Ana Paula Pessoa Vilela, pós-doutoranda na SPPU.

A outra é um “pedacinho da” proteína Spike, que dá ao vírus sua aparência característica com coroas em sua estrutura. “A proteína Nc é particularmente importante para identificar pessoas que foram infectadas pelo vírus, que tiveram a doença. Enquanto que o fragmento da proteína spike é importante para monitorar os que foram vacinados. Como conseguimos fazer as duas verificações ao mesmo tempo, é possível distinguir quem foi vacinado de quem teve a doença, algo importante para estudos epidemiológicos”, explica Luís Carlos Ferreira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), pesquisador e um dos coordenadores da SPPU.

As proteínas foram sintetizadas e depois de avaliadas, sendo também comparadas com testes comerciais. O trabalho tem o financiamento da FAPESP, do Ministério de Ciência e Tecnologia e do Instituto Pasteur.

Vilela afirma que a alta sensibilidade é outro diferencial do novo teste. “Um dos grandes problemas que percebemos nos demais testes é exatamente a sensibilidade. Às vezes, o teste é específico, mas não é muito sensível, então, se o tempo certo da coleta é perdido, não se consegue obter a informação desejada. Já se o teste não for muito específico, mas extremamente sensível, pode-se obter resposta sobre outro patógeno que não seja o SARS-CoV-2. Por isso é preciso chegar em um equilíbrio entre especificidade e sensibilidade”, explica.

Outra vantagem do teste produzido na SPPU é o fato de ter como suporte a plataforma ELISA (acrônimo para Enzyme-linked immunosorbent assay), que permite que vários exames sejam realizados ao mesmo tempo. Como a plataforma ELISA está disponível em qualquer laboratório de análises clínicas, o exame poderá ser de amplo acesso.

“A proteína N é a mais imunogênica entre os coronavírus, ou seja, ela estimula de uma maneira muito forte que nosso sistema imune produza anticorpos contra ela, e tem sido usada desde o início da pandemia. O que fizemos foi avaliar dois fragmentos dessa proteína que tiveram melhor desempenho que testes, disponíveis comercialmente”, afirma Ferreira.

Com a produção em série, foi possível selecionar as regiões da proteína que melhor reconhecem os anticorpos da COVID-19. “A possibilidade de produzir as proteínas em bactérias no próprio laboratório e em larga escala, reduziu o custo do teste, ao contrário dos testes que visam fragmentos da proteína spike e exigem cultivo em células humanas”, diz Vilela.

De acordo com Ferreira, outra importância do trabalho foi dar condições para o desenvolvimento de métodos sorológicos contra doenças infecciosas e criar autonomia em relação a produtos importados de custo elevado. Por ora, os testes desenvolvidos na SPPU estão sendo utilizados para a testagem de pesquisadores e para estudos científicos envolvendo o vírus Sars Cov-2. Mais informações: contato@sppu.com.br