Leilões de petróleo e do setor elétrico são positivos para a economia, avalia CNI

Licitações realizadas pelo governo atraíram investimentos estrangeiros para o país. Sucesso da rodada de óleo e gás foi viabilizado por alterações regulatórias, que tornaram mercado brasileiro mais atraente

Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia como positivo o saldo da 14ª Rodada de Licitações de Blocos Exploratórios de Petróleo e Gás, realizada nesta quarta-feira (27) pelo governo federal. Os leilões de blocos exploratórios geraram arrecadação de R$ 3,8 bilhões. Na avaliação da CNI, para o país se tornar competitivo é imprescindível aumentar a participação da iniciativa privada na gestão e nos investimentos em infraestrutura.

Foram arrematados no total 34 blocos por 17 empresas, sendo 10 nacionais e sete estrangeiras. O resultado indica o maior volume de bônus da história e também as duas maiores ofertas por blocos – ambas na Bacia de Campos (RJ).  O sucesso dos leilões realizados hoje se deu em razão das recentes alterações regulatórias, que tornaram o mercado brasileiro mais atraente para o capital estrangeiro. “O caminho para a reversão do déficit da infraestrutura no Brasil passa pelo aumento da participação privada nos investimentos do setor”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Os leilões desta quarta também incluíram o setor elétrico, com arrecadação total de R$ 12,13 bilhões pelo governo por meio da concessão de quatro usinas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig): São Simão (GO/MG), Jaguara (MG/SP), Miranda (MG) e Volta Grande (MG/SP).

Os pacotes de concessões no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) têm potencial para colocar a infraestrutura do Brasil em outro patamar. É preciso, porém, ampliar os investimentos no setor para níveis de países como o Chile e Peru, quer investem 5,1% e 4,2% de seus respectivos PIBs em infraestrutura, ante apenas 2,3% do Brasil.

Crise no setor de Petróleo

A crise na indústria do petróleo e a redução de investimentos realizada pela Petrobrás têm levado à paralisação de um número cada vez maior de embarcações, cujos contratos não têm sido renovados em sua totalidade pela estatal, maior afretadora do país. Responsável por auxiliar empresas e impulsionar o mercado de barcos de apoio, a Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (ABEAM) atua há mais de três décadas no setor offshore, e vem sendo afetada pelo cenário de recessão que se espalha por todo o segmento e que ainda não parece ter fim próximo. Se no último ano as estimativas indicavam um aumento da demanda por embarcações, a previsão hoje é de que o número de contratos caia ainda mais do que já vem ocorrendo. A curva de crescimento do setor foi impactada diretamente pela crise, explica o presidente da ABEAM, Ronaldo Lima, que projeta um agravamento da situação pelos próximos meses. “Essa curva agora está descendo e não sabemos até onde vai. A expectativa hoje é de que a frota de 500 embarcações continue a cair”.A recessão no setor de petróleo atinge o mundo todo, afirma Lima, e apenas a partir do próximo ano poderá se pensar em uma retomada estável de investimentos.

Quais têm sido os impactos da crise na Petrobrás sobre o setor de barcos de apoio?

Desde que se iniciou esse processo de crise houve paralisação de embarcações. Os contratos terminam, uns renovam e outros não; isso tanto para embarcações de bandeira brasileira quanto estrangeira. É um processo que continua e ainda não sabemos qual será o limite. Hoje temos cerca de 500 embarcações em águas nacionais, das quais 400 são contratadas da Petrobrás, e, embora não tenhamos números exatos, sabemos que ao menos 30 estão paradas. Mas já se fala em até 100 barcos paralisados. Algumas empresas investiram pesado e enfrentam no meio do caminho o problema da não renovação de acordos, o que é um perigo para elas.

Como o setor recebeu o novo plano de negócios da estatal?

Agora com o plano vamos começar a ter uma visão melhor do que vai ser diminuído nessa demanda, mas devemos ver uma redução grande. O plano de renovação da frota marítima parou na sétima rodada. Existe o projeto para iniciar a oitava, mas ela não vai acontecer por enquanto.

O que é feito com os navios inutilizados?

Geralmente são colocados no mercado spot, mas isso não é muito certo. Quanto mais paralisações, mais barcos são disponibilizados nesse segmento. Um dos problemas é que as embarcações estrangeiras precisam estar em acordo com os regulamentos estabelecidos pela Antaq, e elas acabam indo embora do país caso não estejam. Hoje, com o replanejamento da frota da Petrobrás, os investimentos estão mais focados na área de produção. Essa redução no setor de perfuração e exploração tem deixado muitos barcos sem operação.

Qual é hoje o principal foco da ABEAM?

Este é um momento delicado, em que o setor todo está preocupado, e nós tentamos ajudar da forma que podemos. A ABEAM assiste as empresas de uma maneira geral em suas operações, sem entrar em questões de negociação, porque isso é individual de cada companhia. Nós ajudamos em questões tributárias e tomamos parte em acordos operacionais. E temos também discutido com a Antaq as normas de afretamento que dizem respeito à preferência das embarcações brasileiras sobre as estrangeiras no nosso mercado. Com essa lei, uma empresa que queira contratar um barco estrangeiro deve antes perguntar ao mercado se há alguma embarcação brasileira disponível, e, caso haja, deve ser ela a contratada.

A exploração do pré-sal traz novas perspectivas de crescimento?

Sem dúvidas. Quanto mais unidades a Petrobrás colocar no pré-sal, maior vai ser a demanda por barcos. Mas, ao menos neste momento, não haverá crescimento. Nós tínhamos uma curva, estimada no ano passado, que previa a contratação de 720 barcos de apoio até 2020. Essa curva agora está descendo e não sabemos até onde vai. A expectativa hoje é de que a frota de 500 embarcações continue a cair.

Nesse cenário, como têm se portado os investidores estrangeiros?

Os investidores de fora estão preocupados porque fizeram investimentos ao longo dos últimos anos para se estabelecer aqui, e isso agora está em risco com a retração do mercado. Eles, na verdade, não têm pra onde ir, porque o cenário está ruim no mundo todo. O mercado mundial tem sido até mais afetado que o nosso, como é o caso do Mar do Norte e também do lado americano do Golfo do México, que foi bastante atingido.

A 13ª Rodada de Licitações pode reaquecer o mercado?

Eu acho que sim, principalmente com a aprovação do projeto de lei que altera o regime de partilha. Isso é importante porque a Petrobrás hoje assume sozinha essas operações, nas quais nem sempre tem condições de investir. Assim, pode-se abrir espaço para outras companhias entrarem no mercado.

Existe alguma estimativa de melhora em curto prazo?

A estimativa de melhora é para o segundo semestre de 2016, em que o mercado pode começar a crescer um pouco, acompanhando a economia. Embora não seja oficial, esse é uma expectativa de todo o nosso setor.

Fonte: http://www.petronoticias.com.br/archives/71207