Aconselhamento genético como aliado nos diagnósticos médicos

Geralmente, a procura por um profissional de saúde ocorre a partir dos primeiros sintomas de alguma doença, fazendo com que, em alguns casos, o diagnóstico seja tardio e, talvez, ineficiente para determinadas condições. Mas, com o avanço tecnológico, a medicina e os exames laboratoriais passaram a ficar cada vez mais completos, preditivos e preventivos.

Um dos grandes aliados neste novo cenário quando falamos no combate precoce às doenças tem sido o Aconselhamento Genético. Essa atividade é realizada, em geral, por profissionais de saúde como médicos, biólogos e biomédicos, que tenham experiência e formação em aconselhamento genético ou genética clínica. Esse método trata-se, basicamente, de uma consulta que pode ser realizada após um mapeamento genético, ou seja, a leitura de diversos pontos do DNA de uma pessoa. Os marcadores presentes nos genes de cada paciente é o que conduz as orientações por parte do profissional de forma mais clara e assertiva.

Doenças como o Alzheimer, o Parkinson e diversos tipos de câncer, por exemplo, têm contribuição genética. Através do sequenciamento de uma parte do genoma, é possível saber se o paciente possui ou não determinadas alterações que predispõem a essas doenças. Após essa leitura do DNA, é possível, em uma consulta de aconselhamento genético, o paciente entender um pouco mais da sua genética e, com isso, adotar métodos preventivos contra o desenvolvimento dessas e outras patologias e até, em alguns casos, evitar de passá-las para gerações futuras.

Com a implementação da técnica nos hospitais e clínicas brasileiras, será possível ampliar o alcance dessa análise, prevenindo os danos que podem ser causados pela descoberta tardia de uma doença. Um exemplo é o caso da atriz americana Angelina Jolie que, após descobrir a tendência para câncer de mama e ovário em seu organismo, fez a cirurgia de retirada desses órgãos, minimizando os riscos da doença.

Atualmente no Brasil, temos alguns serviços de saúde que oferecem aconselhamento genético, em especial os que possuem ambulatório de genética, como o Instituto da Criança no Hospital das Clínicas e o Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, em São Paulo. Para que ele possa ser oferecido de forma social, a Agência Nacional Suplementar (ANS) indica que convênios devem cobrir os serviços de aconselhamento genético quando solicitado pelo médico e haja justificativa para sua solicitação.

Ainda de forma embrionária no Brasil, o serviço de aconselhamento genético está em franco crescimento, podendo se desenvolver e se consolidar na medicina nacional. A medicina personalizada e preventiva, aliada ao conhecimento da genética, fará com que as pessoas sejam capazes de entender o seu próprio genoma e como isso interfere em sua saúde e qualidade de vida, marcando uma revolução na forma como descobrimos e tratamos as doenças.

*Ricardo di Lazzaro Filho é médico, formado pela Faculdade de Medicina da USP, e farmacêutico-bioquímico, formado pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. É mestre em Aconselhamento Genético e Genômica Humana e doutorando em Genética e Biologia Evolutiva pelo Instituto de Biociências (USP). É cofundador do laboratório Genera, e cofundador/investidor anjo de startups de saúde e tecnologia.

A telemedicina pode se transformar na solução para ampliar o acesso ao atendimento médico no Brasil

As ferramentas tecnológicas, em especial a telemedicina, são vistas por especialistas como uma forma de potencializar e reverter aspectos negativos da gestão da saúde no Brasil

Em um mundo com cada vez mais presença digital, os serviços que não se remodelarem ficarão obsoletos. Seja na forma de estudar, trabalhar, comprar ou até mesmo receber o atendimento de profissionais de diversas áreas. Na medicina, esse fenômeno tecnológico tem acontecido nos últimos anos, mas por conta da pandemia do novo coronavírus, muita coisa acabou sendo acelerada pela necessidade de atender os pacientes de forma remota. O Brasil é um país de dimensão continental e muitas pessoas têm se beneficiado da telessaúde desde que ela foi autorizada em caráter emergencial em decorrência do Projeto de Lei 696/20, proposto pela Deputada Federal Adriana Ventura, com foco no tratamento da Covid-19.  

Essa liberação ainda não é definitiva, visto que esse tipo de atendimento só está autorizado enquanto a saúde pública estiver em colapso por conta da pandemia. Para Fábio Tiepolo, CEO e fundador da Docway, empresa brasileira de inovação com foco em saúde, todo o ecossistema precisa estar preparado para que a telemedicina funcione de forma efetiva no país. “Nosso foco na Docway é continuar investindo em inovação, disponibilizando novas tecnologias, e impulsionando nossos serviços dentro de diversos segmentos. Sendo assim, estaremos preparados para assumirmos as novas demandas que serão geradas quando a prática for oficialmente liberada no país”, enfatiza o CEO.

O Diretor Corporativo de telessaúde da operadora de planos de saúde Hapvida, José Luciano Cunha, afirma que é difícil dissociar a economia do impacto social que a telemedicina pode proporcionar na vida das pessoas. “Segundo dados do IBGE de 2019, temos mais de 72% da população brasileira conectada à internet, além de cada vez mais sinal de redes 2G e 3G nas regiões rurais. Isso acaba auxiliando na troca de informações entre o paciente e o profissional, pois a telemedicina não é apenas uma troca de mensagens, mas sim uma troca de informações entre os dois e essa tecnologia facilita o acesso à saúde”, explica Cunha.

Só por este motivo, já é importante analisar o quanto seria benéfico se os órgãos públicos conseguissem incluir a telemedicina como um serviço de saúde comum no país. Assim como uma consulta tradicional, a teleconsulta também precisa de uma infraestrutura adequada e profissionais habilitados para realizar esse tipo de atendimento. “Todo o ecossistema precisa estar preparado para a telemedicina, em especial a teleconsulta. O profissional deve se preocupar com segurança de dados, com a postura durante o atendimento, com a maneira que deve falar com o paciente, pois em uma teleconsulta existe a barreira física e tudo precisa ficar muito claro”, ressalta Tiepolo.

Muitos acreditam que a telessaúde é regulamentada em todo o mundo e que apenas o Brasil está atrasado, mas se enganam. “Nos Estados Unidos, o maior crescimento no setor foi nesse momento, devido à pandemia, afinal, eles também tinham problemas regulamentares, e agora, acreditam que a telemedicina veio pra ficar, mas ela já existia antes”, comenta Cunha. A telemedicina deve ser encarada como um recurso que vem para somar. “Além disso, é uma excelente ferramenta para viabilizar os sistemas de saúde e otimizar o tempo médico, gerando benefícios para todos os envolvidos e colocando o Brasil em linha com as boas práticas adotadas por outras nações”, completa Tiepolo.